Jacira JacintoJacira Jacinto
Advogada, especialista em proteção de dados pessoais. Espírita de nascimento, mora em São Paulo-SP

... Imagine que não houvesse nenhum país

Não é difícil imaginar

Nenhum motivo para matar ou morrer

E nem religião, também

Imagine todas as pessoas

Vivendo a vida em paz ...”

John Lennon.

Nada, nunca, ninguém me convencerá de que existe uma justificativa para a guerra.

Alguém dirá: mas os Estados Unidos explodiram Nagasaki e Hiroshima, cruelmente, com a bomba atômica. Hoje eu perguntaria, e daí? Muitas décadas se passaram, são outros os povos que constituem os países e depois disso muita coisa mudou. Mais recentemente, os Estados Unidos invadiram o Iraque e promoveram outras guerras e massacres. Hoje eu pergunto: em que isso justifica novo massacre, nova guerra? Nunca apoiaria esse tipo de ação, no passado ou agora. Seus terríveis efeitos são muito claros. Não há como justificá-los.

Há duas teses totalmente antagônicas para os minutos que antecederam a guerra. Alguns dizem que os países ocidentais vêm tentando negociar com a Rússia há tempos, mas Putin só disse “não”. Há aqueles que afirmam o contrário: a resistência teria sido de Volodymyr Zelensky, apoiado pelo ocidente, que teria dito “não” a Putin, vinte minutos antes de a primeira explosão acontecer. Segundo essa última tese, Putin teria dito: vou invadir se não atender às minhas reivindicações; Zelensky não teria atendido e ele de fato invadiu . O que importa apurar essa “verdade”? Supondo que essa última afirmação esteja conforme com a realidade, por que isso justificaria a matança irracional que está acontecendo hoje na Ucrânia, a morte de milhares de pessoas, a devastação de um país e a ameaça da terceira guerra mundial com bombas nucleares?

Não sou tão inocente como podem me acusar, mas penso como gente, tenho filhos, netos, família e amigos. Gente é também o meu desconhecido e se por acaso for meu inimigo, não penso em matá-lo, pois, apesar de saber que essas terríveis linhas escritas no caderno da história têm por fundamento grandes interesses, todos, indistintamente, têm o direito sagrado de viver. Claro que a nossa condição humana muitas vezes nos faz desejar o sofrimento de outro ser humano e até o seu desaparecimento da terra, mas esse desejo natural precisa ser reprimido pela razão. Irreverentemente, hoje há quem acuse os defensores da paz de adotarem atitudes simples e emocionais. Penso, ao contrário, que a razão impõe a diplomacia.

Há um grupo de países detentor do “poder”, claramente representado pelo capital. Podemos odiar essa situação, mas precisamos usar a nossa inteligência e a nossa razão para revertê-la; afinal, se possuem o poder, certamente vão massacrar aqueles que, pela força, tentarem detê-los.

É preciso refletir muito sobre todas essas questões, afinal ninguém é “inocente” ou “santo” no exercício do poder. Alegam que parte da Ucrânia é nazista; não sei, pode ser, mas parte do Brasil também é, alguns declaradamente e outros no armário. E daí? Vamos matar todo mundo? Vamos permitir que matem nossas crianças, que explodam nossos hospitais e escolas, que destruam nossos lares porque algumas pessoas brasileiras são nazistas? Qual é a racionalidade nisso?

Elementar, em meu ponto de vista, estudar a questão 743 de O Livro dos Espíritos:

P. 743: Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”

Quando será?

Alguns responderão, quando vencermos o capitalismo; afinal haverá mais chance de todos os povos se irmanarem, agirem como verdadeiros irmãos. Mas a epígrafe mencionada no topo deste texto, escrita por quem nasceu em 1940, antes da existência da ONU, permanece uma utopia.

Putin defende as ações geopolíticas, especialmente a partir de 2012, fortemente presente nas atividades de política internacional - Anexação da Crimeia, Guerra civil Ucraniana, Sanções econômicas, Guerra Civil Síria e agora essa tormentosa guerra na Ucrânia com potencialidade real de se tornar uma guerra mundial. Não é possível separar o interesse russo do capitalismo, definitivamente, não parece haver justificativa humanista, defesa de direitos fundamentais, luta contra injustiças sociais, ou qualquer outro valor nobilíssimo a justificar essa guerra. Com o devido respeito a quem pensa diferentemente, a guerra tem sido alimentada pela ganância de poder - raiz do capitalismo, que mata, destrói, aniquila completamente, qualquer chance de paz no mundo, ou de evolução para a utopia da nação única – verdadeiro sentido de humanidade.

Não sou analista política, não estudo filosofia nem política, senão o mínimo indispensável para acompanhar os acontecimentos sociais, mas, mesmo assim, não quis me calar. Quero conclamar a todos para uma luta pacífica pelo fim da guerra.

Espíritas, amigos todos, pensemos em formas de ajudar a resolver os conflitos pela diplomacia; usemos a nossa inteligência para sugerir soluções que não passem pela morte de pessoas inocentes . Será que não podemos forçar decisões utilizando-nos de atitudes pacíficas? Lembremos o advogado Mohandas Karamchand Gandhi e Greta Thunberg, ativista ambiental sueca. Lembremos tantos jovens ativistas ambientais do Paquistão, Estados Unidos, Chile, Brasil, Uganda, Etiópia, Filipinas etc. Todos vêm nos ensinando que é possível interceder por causas humanitárias, por Justiça, por sustentabilidade e por todos os direitos fundamentais dos seres humanos, SEM matar ou ferir pessoas, especialmente inocentes.

Não tenho condições, nem o mínimo interesse em defender os Estados Unidos, a Inglaterra, os países nórdicos ou qualquer outra nação. São bastante justas muitas das acusações que lhes fazem, assim como a denúncia de que a Rússia busca ampliar seu império a qualquer custo, fazendo usos indiretos de meios coercitivos mediante a cooptação de grupos de cooperação.

Em minha opinião, cabe-nos combater todas as maldades, de todos os lados. Nossas ações podem começar, por exemplo, pela clareza de que a guerra não se justifica por nada e não é bem-vinda no mundo .

Peçamos e façamos a paz!

Assim é que, nos mundos superiores ao nosso, se desconhecem as guerras, carecendo de objeto os ódios e as discórdias, porque ninguém pensa em causar dano ao seu semelhante.

Allan Kardec

 

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