logocepaCEPA-ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA INTERNACIONAL

NOTA DE REPÚDIO À VIOLÊNCIA

Considerando as recentes denúncias de casos envolvendo abusos de natureza sexual praticados por pessoas identificadas pela mídia como espíritas, a CEPA-ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA INTERNACIONAL vem registrar sua posição a respeito, objetivando alertar a sociedade contra o exercício de práticas mediúnicas espúrias e contrárias às orientações espíritas. De acordo com a Filosofia genuinamente ESPÍRITA, fundada por Allan Kardec:

  1. Espírita é todo aquele que adota a Filosofia Espírita como orientação moral e espiritual. Espiritualista é toda pessoa que acredita haver em si algo mais além da matéria. Portanto, todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita.

  2. Conforme Allan Kardec: “A faculdade mediúnica é uma propriedade do organismo e não depende das qualidades morais do médium; ela se nos mostra desenvolvida, tanto nos mais dignos, como nos mais indignos[...]”. Desse modo a mediunidade não é sinônimo de “santidade” e não deve ensejar qualquer forma de gurulatria; ademais não se apresenta apenas nos espíritas, pode revelar-se em qualquer pessoa, independente de crença ou fé.

  3. Pelo menos dois episódios, relacionados ao trabalho de médiuns, chocaram o Brasil recentemente e envolveram o nome do Espiritismo. O primeiro remonta ao mês de agosto e refere-se ao ex-professor universitário e médium espírita Maury Rodrigues da Cruz, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas, de Curitiba (PR). A imprensa divulgou que Maury assediou sexualmente 57 jovens do sexo masculino. Todavia, o caso mais recente e de grande repercussão envolve o médium espiritualista, que se afirma católico, conhecido como João de Deus (João Teixeira de Farias), e que atende na Casa de Dom Inácio, em Abadiânia (GO). Este caso tem maior ressonância, tanto pelo número de denúncias quanto pelo reconhecimento nacional e internacional do médium. Até o momento em que esta Nota foi redigida, mais de 300 mulheres haviam procurado as autoridades declarando haver sido sexualmente abusadas por João de Deus, inclusive a própria filha, na ocasião menor de idade.

  4. Maury e João de Deus, conquistaram méritos e reconhecimentos. Consta que curaram muitas pessoas portadoras de enfermidades gravíssimas. Mas, ainda que admirados e endeusados por aqueles a quem intermediaram a cura, revelaram-se apenas humanos, contra os quais há sérias acusações de práticas moralmente condenáveis e totalmente incompatíveis com a ética espírita.

  5. Embora em todos os tempos a população tenha se surpreendido vez ou outra com sérias denúncias contra líderes religiosos, não se pode admitir que nenhum ser humano se aproveite da fragilidade do seu semelhante para praticar abuso de qualquer espécie. Sendo o médium espírita ou não, a mediunidade é um dom natural que, segundo a Filosofia Espírita, deve ser praticada gratuitamente a favor da humanidade, do progresso, das pesquisas e de todo o bem que se possa fazer com ela.

  6. Os tempos atuais são de violência exacerbada em toda a sociedade. Impressiona, dentre outros crimes, a quantidade de estupros, feminicídios e homicídios, que ocorrem no Brasil.

  7. A CEPA manifesta sua mais VEEMENTE REPULSA a todo tipo de violência, especialmente a que se vale de circunstâncias tais como a ignorância, a confiança ingênua, a fragilidade física, psicológica, espiritual ou emocional das vítimas.

  8. Outrossim, expressa solidariedade aos que sofrem ou sofreram agressões, bem como às suas famílias. É necessária a máxima atenção da sociedade, pois a vigilância, a precaução, a solidariedade, o cuidar de si cuidando de todos são recursos ao nosso alcance e que devemos usar. Denunciar sempre quaisquer suspeitas de abuso ou violência, para que haja investigação.

  9. Mesmo com essa posição, a CEPA recorda que não pode haver condenação antes que os órgãos institucionais competentes concluam o processo. De acordo com a Constituição Federal, ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

São Paulo(SP), 19 de dezembro de 2018.

Jacira Jacinto da Silva - Presidente